Diversos jornais nordestinos, sobretudo os baianos,
divulgaram rapidamente a notícia, que quando reforçada por fotos do acidente
configura ainda mais a tragédia.
No final da década de 80, a Ditadura Militar recém havia
terminado, o Movimento pelas "Diretas Já" mantinha o Brasil vibrante! Eu participava
de movimentos pelos direitos das mulheres, como militante do Partido dos
Trabalhadores, que era ainda jovem e livre dos vícios atuais.
Conheci jovens mulheres, muitas ainda na faculdade, cujo
amadurecimento já incorporava a luta pelo outro, em especial às mulheres: negras,
gays, deficientes, pobres, enfim, às minorias, não em quantidade, mas na
obtenção de direitos mínimos.
O Movimento Feminista foi muito importante para assegurar
direitos básicos às mulheres. Imagina você que, estamos já no tão esperado século
XXI, que seria o “século da igualdade”, porém, as condições das mulheres ainda são
discriminatórias em situações diversas: recebem salários menores do que os dos
seus colegas homens, representam números minguantes nos altos postos empresariais,
sofrem violência doméstica e sexual, e a elas são impingidos códigos de conduta com
características servis e opressoras.
As jovens de hoje que nasceram com “certos” direitos sobre seu
corpo, sua sexualidade e trabalho, talvez nunca imaginam como seria viver nos tempos em
que não havia esses direitos, muitos deles garantidos na Constituição
Brasileira, devido às lutas feministas dos tempos idos. Haveria ainda maior invisibilidade sem o trabalho guerreiro
de feministas históricas no Brasil e no mundo no último século.
Nos últimos quarenta anos percebemos mudanças profundas no papel e na abertura às questões femininas, na política, no âmbito familiar e no contexto social. Mas tudo isso só foi possível graças ao trabalho das mulheres que fizeram de suas vidas verdadeiras batalhas e autossacrifício na luta por mais justiça e equidade.
No livro “A aventura de contar-se” a professora Margareth
Rago, que conheci na Unicamp, retrata a vida de sete mulheres cujas vidas, em
suas lutas pelo feminino, possibilitaram a transformação do Brasil em lugar
melhor para a mulher. Revelando suas biografias, revela também a história feminina do nosso país. Indico sua leitura.
E faço este texto para homenagear a “companheira” feminista
Lurdinha Rodrigues, que conheci no movimento feminista, há trinta anos. Lembro-me bem de que eu
era uma novata, iniciante nas questões de gênero, e embora tínhamos idade
aproximada, ela já era militante experiente, segura de si, uma verdadeira
líder. Me punha no chinelo!
Diferente de mim, ela nunca saiu da luta militante, e passou
toda a sua vida envolvida com questões partidárias, comunitárias, micropolíticas,
em defesa da mulher. Sempre a encontrava nas manifestações.
Lurdinha era atualmente Coordenadora-Geral da Diversidade na
Secretaria das Políticas para as Mulheres da Presidência da República, e em viagem
neste carnaval com a amiga Rosângela Rigo, Secretária de Articulação
Institucional e Ações Temáticas (SAIAT), se envolveram e tiveram suas vidas
ceifadas tragicamente em acidente de carro, onde foram carbonizadas.
Diversas foram as notas de pesar de secretarias diversas, de
partidos e órgãos de Direitos Humanos, que citaram a determinação,
legitimidade, ideais socialistas, ativismo, dedicação no trabalho politizado e
comprometido de ambas em favor
dos direitos das mulheres, a serviço da igualdade e da justiça social.
A mensagem que mais me tocou, é da Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial em que o governo brasileiro afirma perder duas militantes preparadas e extremamente
aguerridas, porém, lembra que ficamos com “seus históricos para inspiração das
novas guerreiras que surgem e que ficam”.
Que surjam e que
fiquem mulheres como Rosângela e Lurdinha que tem o meu respeito e admiração,
embora neste momento, muita tristeza, e apenas esta singela homenagem!
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