Olá amigos amantes da natureza do Blog Feliz da Vida! Uma história de verão para aliviar as cargas pesadas do momento político brasileiro atual:
Não se sente em um de seus melhores
dias, nem sente aquele como o pior, “nem cheirava nem fedia”, diria sua avó
Antonia, “que Deus a tenha”.
Se arrumou sem muita disposição,
de modo que jeans e camiseta julgou “suficiente”. Apenas o tênis passou por
escolha mais rigorosa, o azul, já batido, assim, confortável e ideal para a
chuva fina que cai insistentemente todo o verão. Ainda bem que está no fim. “Odeio
calor”, pensa.
Faz o caminho habitual com o
propósito diário de cumprimentar a goiabeira, frondosamente instalada na praça,
que foi sendo cercada por calçadas, e prédios, e gente. Sufocada pelo progresso
econômico da região.
Passa religiosamente por baixo da
árvore, como que para reverenciar sua presença e referenciar que são iguais, ambas
são desapercebidas no meio do todo. Gente, carros, buzinas, chuvas.
Passa a mão em seu tronco, fala
um ligeiro “oi” e comenta algumas coisas como “que bom te ver hoje”, “você está
verdona, que linda!”, “quanta chuva hem? Está bem molhada”...
Reparou a uma semana que havia
uma goiaba no pé. Primeiro verde e pequena, que foi crescendo e ganhando a cor
amarela. Bonita! “Parece apetitosa”.
Seguia seu rumo, até a visita do
dia posterior, enquanto elocrubava sobre as coisas da árvore ao passar por ela.
Por que haveria apenas uma em uma árvore tão grande? Poluição? Idade?
Pensa nas árvores todas
abandonadas pelos homens, e quase chora ao lembrar de uma, no bairro em que
mora.
Algum displicente descarregou um monte de pedra sobre ela, para
fazer a obra do rio. “Com tanto lugar!”
Deve ter um Deus separado para a natureza,
pensa, pois ela sobreviveu à construção, está crescendo ao lado do rio agora
canalizado.
Nesta noite, de chuva, jeans,
camiseta e tênis velho, esperando o semáforo abrir, olha de longe sua amiga
árvore. Pensa na goiaba solitária, agora já madura. Atravessa a rua e no mesmo
instante que passa pela árvore, antes mesmo de tocar seu tronco no cumprimento
diário, a única fruta desprende-se do ramo. Caindo, passa rolando e para
encostada na guia.
“Puxa, passou por mim e não
peguei?” Olhando para traz percebe os transeuntes e carros parados no farol, no
canto, a goiaba.
Segue seu caminho após conversar
com a árvore amiga, quando percebe duzentos metros depois que deve voltar.
Aquela goiaba não pode ficar lá, abandonada para apodrecer. “Caiu para mim. É
um presente!”
Vai, não vai...as pessoas a verão
voltar para pegar uma fruta no chão...não vai. Segue.
“Vou sim!” Decide convictamente,
retorna o caminho já traçado, disfarça enquanto abaixa, pega a goiaba. Cheira a
fruta, que tem o aroma agradável e convidativo das goiabas que comia na chácara
da avó.
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