Esse espaço deseja contribuir com seu desenvolvimento mental. Por isso, nessa época de festas, de mesa farta e de aproximação entre as pessoas que compartilho as ideias de “Convívio” ou “Banquete” escritos pelo poeta italiano Dante Alighieri entre 1304 e 1307.
O livro está dividido em quatro “Tratados”, escolhi compartilhar o quarto, que trata de temas “filosoficamente amenos” como a amizade, fidelidade, felicidade, juventude, velhice, ética nos atos e costumes, comportamento em sociedade privilegiando o bem, o bom cidadão, a harmonia do homem com a natureza e com seus semelhantes.
Muito a ver com esse Blog! Razão de partilharmos esse banquete, oferecida por ele e aqui por nós, numa “mesa farta do saber” com base no livro Dante Alighieri, o Poeta Filósofo, de Carlos Zampognaro publicado na Coleção Pensamento & Vida pela Editora Escala, e comprado a preço acessível nas máquinas nas estações do Metrô. (Dante desejava partilhar o saber, iria ficar feliz ao ver os clássicos vendidos nestas máquinas).
A abertura do “Tratado” aborda a necessidade do saber e a
importância do conhecimento “o banquete do intelecto”. No saber, reside a
perfeição da nossa alma, e a natureza humana nos leva a desejar o conhecimento.
Infelizmente, diz, alguns homens não pode encontrá-lo devido a problemas
físicos, aos vícios (que o envolvem tanto que se descuida de todas as outras
coisas), das obrigações civis (que lhes ocupa muito tempo) e da preguiça ou
defeito do lugar onde nasceu (que o priva do acesso ao conhecimento e ao
contato com os estudiosos). Todas essas causas são dignas de abominação, pois “a
falta de conhecimento diminui o valor do indivíduo” de 3 formas: puerilidade de
ânimo (viver segundo os sentidos e não pela razão, como crianças), a inveja (se
considera menos privilegiado devido à excelência dos outros) e à imperfeição
humana (que lança sombras sobre a bondade apresentando-a como menos valiosa do que
realmente é).
Defende o uso da língua popular em substituição ao Latim para
que as pessoas comuns possam entender a obra e ela atinja e beneficie a todos.
Como professora compartilho desse sentimento e me alegro pelas tecnologias de
hoje que propiciam maior acesso ao saber.Por fim, aborda a retidão moral, que se revela pela bondade (nobreza, propensão para o bem, o bom, o socialmente justo). “Deve-se saber que o homem é composto de alma e corpo e a nobreza está na alma como uma semente de virtude divina” (Vale a leitura em detalhe da sua concepção de semente e sua germinação, não contempladas neste post por limitações de espaço e foco).
Discorre sobre a bondade como fonte de benefícios e felicidade. “O homem deve empenhar-se com arte e solicitude em conceder sempre que possível benefício que seja útil a quem o recebe”.
Concebe o uso de nossa alma como duplo: prático e especulativo. Prático (operativo) no sentido de podermos agir por nós mesmos de modo virtuoso, com prudência, honestamente, com temperança, fortaleza e com justiça. E de modo especulativo, que se refere à contemplação não de nosso modo de agir, mas de se considerar as obras de Deus e da natureza. Esses dois modos de ânimo (alma) são nossa bem-aventurança e nossa felicidade.
Por fim, divide a vida humana em 4 etapas (idades):
adolescência, juventude, maturidade e velhice.
Chamou-me a atenção, por eu trabalhar com pessoas dessa
idade, que define a juventude como “a idade de quem pode ser útil”, apontando
as virtudes da juventude: cortesia, lealdade, amizade sincera, amor, fortaleza,
temperança, e outras. Da idade madura: prudência, justiça, magnanimidade e
afabilidade. As virtudes “revelam a felicidade de viver”.
Escreve sobre a experiência da velhice quando se deve voltar
a Deus e bendizer o caminho que percorreu enquanto foi reto, bom e sem
sobressaltos. Compara a morte a uma viagem, em que o marinheiro recolhe suavemente
as velas e reduz a velocidade do barco “volta-se para Deus com toda a sua
disposição e coração aberto, de tal maneira a chegar ao porto com toda suavidade
e paz”.
Nessa idade, segundo Dante, a alma nobre bendiz os tempos
passados, e pode muito bem bendizê-los porque “revolvendo sua memória, relembra
suas boas obras sem as quais não poderia chegar ao porto com tamanha riqueza e
grandes lucros”.
Encerra citando o bom mercador “Se não tivesse passado por
esse caminho, não teria conseguido este tesouro e não teria do que me alegrar em
minha cidade da qual me aproximo” (Tratado IV cap XXVIII).
Profundo, e que merece bastante reflexão não? Mormente por
se tratar de aspectos do comportamento do homem na sua condição social. Quem é
esse homem? Você, eu, seres sociais, convivendo numa sociedade em que os
valores parecem se perder em meio à disposição de ter maior que a disposição de
ser.
Esta é nossa mensagem de Ano Novo, que possamos relembrar o
ano que termina como produtor de boas obras, e que na próxima etapa, pensando
em 2014 como a cidade da qual nos aproximamos, cada um de nós possa se alegrar ainda
mais com as boas obras que iremos produzir.
Na “morte” de 2013, pare um pouco para contemplar a sua alma,
diminua a velocidade do barco e rememore o que fez de bom. “Busque a Deus com
toda a sua disposição e coração aberto, de tal maneira a chegar ao porto (2014)
com toda suavidade e paz”.
Faça de 2014 um ano de virtudes, de bom comportamento
social, crie oportunidades de praticar a bondade, assim encontrará a felicidade
tão desejada pela alma humana.
Ainda de Dante, sobre a juventude, “ninguém pode dar o que
não tem”. Que tenhamos uma alma virtuosa, ela manterá nosso corpo luminoso,
para que tendo, possamos dar (conceder benefícios a quem os recebe).
Amém! Feliz Ano Novo!
As ideias vão muito além desse “recorte”, pena que o livro está
disponível para download apenas no idioma original, Italiano, no site Domínio
Público Convívio - Dante
O Professor Emanuel França de Brito da USP, explica no ensaio Tradução parcial e comentada do Convívio de Dante, as dificuldades de tradução (“abismo cultural e linguístico”) de sua obra Ensaio - Profº Brito
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O Professor Emanuel França de Brito da USP, explica no ensaio Tradução parcial e comentada do Convívio de Dante, as dificuldades de tradução (“abismo cultural e linguístico”) de sua obra Ensaio - Profº Brito
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