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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Bom humor na sala de aula. A percepçao do "Eu" e do "Outro".

Amigos leitores do Blog Feliz da Vida! Certa vez uma aluna, do tipo que chega atrasada e não sorri nunca, reclamou de meu senso de humor. As críticas devem nos levar a reflexão na busca de sua validade. Refleti e conclui que até poderia ser uma professora rabugenta (o tipo existe), mas como só posso dar aquilo que tenho, e por ser uma pessoa feliz e alegre, optei por manter o bom humor.
Certa vez uma colega do mestrado me deu uma cópia do artigo “Humor, educação e pós-modernidade” de José Sterza Justo, professor da UNESP, que guardei com muitos outros para ler quando tivesse tempo, ou seja, nas férias. Julgando-o muito apropriado, abaixo resumirei e comentarei pontos do artigo agora lido.

O ser humano tem duas expressões afetivo-emocionais básicas: rir e chorar. O choro manifesta-se como seu primeiro pronunciamento como sujeito no mundo. O riso aparece depois por volta do segundo mês de vida. Começa com movimentos sutis no canto da boca enquanto o bebê dorme e daí para frente deixa claro as sensações de prazer e alegria que o acompanham. Com o tempo torna-se mais intenso, frequente, culminando na gargalhada da criança.
Imagem: publicdomainpictures.net
O riso se manifesta no bebê mediante a percepção da figura humana, ele ri quando visualiza o rosto do outro. “O riso e a alegria, portanto, acompanham esse acontecimento fundamental e decisivo para a constituição do sujeito: a descoberta concomitante do “Eu” e do “Outro”...e se estenderá para outros acontecimentos e relação do sujeito com o mundo”

Claro, nem tudo será harmonioso na vida dessa criança, mas há formas de diminuir o peso das angústias no enfrentamento de conflitos e dificuldades, o emprego do humor.

O humor suaviza o enfrentamento de situações problemáticas e constrangedoras travestindo o sentido do que está sendo expresso na linguagem e na interação.
Uma vez estabelecidos os conceitos (mais amplos que essa transcrição inicial) procurei focar nos aspectos do humor na sala de aula. Geralmente, nós professores não lemos por ler, lemos para aprender, lemos estudando. Vejam o que encontrei:

“No espaço micropolítico da sala de aula, o humorismo ressoa profundamente nas subjetividades e nas relações estabelecidas. Pela via do humor se abre a possibilidade de expressões de ideias e afetos contidos e policiados, sob o patrocínio de uma atmosfera mais tolerante, licenciosa, flexível e permeada pela alegria e desenvoltura... A descontração propiciada pelo riso permite a superação de inibições e maior arrojo do sujeito na expressão de seus pensamentos e sentimentos e na sua exposição ao grupo.”
O artigo expõe como o humor pode ter também um efeito maléfico, como na situação do aluno que “não deixa passar nada” e faz interações cômicas constantes, muitas vezes para provocar o professor, algum colega ou badernar. São propósitos vinculados à perversão, como nas situações em que o humor e as piadas são empregadas para desqualificar e ridicularizar o outro.
Esse tipo de humor perverso resulta muitas vezes de preconceito e resulta em violência.

Nota que o humor como instrumento de linguagem e socialidade (relações que se desprendem das normatizações), se faz presente nos relacionamentos informais, aparecendo mais em momentos de desconcentração. Na sala de aula, quando ocorrem momentos de desconcentração e “discursividade lúdica”, fica visível o espírito de comunhão total no riso largo frente a um gracejo espirituoso. Nesse momento está sendo compartilhado um sentimento coletivo de alegria.

“A apropriação do humorismo pela pedagogia é inevitável dentro do quadro atual de flexibilização, expansão da linguagem... e pode contribuir para retirar dos afazeres de ensino-aprendizagem aquela atmosfera carregada de sisudez, pesar e sofrimento. O tom de alegria e desconcentração do humor pode tornar mais prazerosa e divertida a convivência com os pares na sala de aula e com as tarefas relacionadas ao conhecimento.”

Você já viu como os professores de cursinho pré-vestibular colocam humor na construção das aulas?
Observa ainda que a pedagogia do humor não tem como aspirações a disciplina e a sujeição, mas não pode, por outro lado, significar baderna e falta de compromisso, e também que, a convivência com o humor implica disposição para lidar com atitudes de subversão criativa da linguagem e das relações sociais; e é justamente esse sujeito criativo, capaz de transpor limites que é demandado pela sociedade, mais do que o sujeito reto, compenetrado, sério e intransigente.

Finaliza orientando que estejamos atentos para que o humor não se coloque a serviço da banalização, alertando que a cultura pós-moderna é invadida por um senso de superficialidade.
Não banalize as relações, a alegria não é um sentimento banal.

Então, está aí minha escolha. Sou movida a bom humor, muita coisa me anima, o cubo enorme de gelo no suco, o guarda volumes nas rodoviárias, o colchão na sala abrigando a família como num ninho, o “melhor bolinho de bacalhau do mundo”, gente do Piauí, SC, MG, SP, gente, adoro gente. De toda cor. Alegra-me os livros, muitos livros, o mundo dos livros, os alunos e o ensino.  
A frase acima é inspirada em frase da professora Marta Rovai, proferida no Encontro de História Oral, na Unicamp, quando nos conhecemos, que assim finalizou sua fala no grupo de discussão que coordenava: “Gente é lindo! Será que sou uma deslumbrada?” Como eu, pelo menos é bem-humorada!

Os temas abordados pelo artigo são muito mais amplos que os aqui comentados, compilados para o objetivo do post. Vale sua leitura completa que possibilita outras análises sob olhares variados. O artigo pode ser lido no link abaixo à partir da página 103.
Artigo Humor, educação e pós-modernidade

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