Amigos
leitores reflexivos do Blog Feliz da Vida! Convido-os para refletir ainda neste
post sobre o tema ensino superior.
Li
recentemente um artigo de Wellington Moreira no site RH, que reflete alguns dos
problemas que eu vivencio em sala de aula, e situações que eu percebo nas
empresas onde realizo consultoria. Embora o artigo cita números de ano
anterior, ainda não deixou de ser a realidade e comento neste post os temas
principais.
O
articulista cita a grande quantidade de alunos que a cada ano recebe diploma de
ensino superior, número ainda baixo por termos apenas 11% da população entre 25
e 64 anos com tal formação, porém, muitos já formados “quando se
apresentam ao mercado de trabalho, descobrem que a sua capacitação não atende
os requisitos mínimos exigidos pelos empregadores”.
O autor
aponta que diploma não mais significa boa formação e que estamos diante da
"Geração do Diploma"
Daí cita
possíveis razões para essa desqualificação generalizada, tais como falta de
experiência prática, baixa qualidade do ensino ofertado pela maioria das
universidades, exageradamente teórico, professores desmotivados, e aprendizes
mais preocupados com a nota do que em aprender. Enfatiza que muitos alunos não
conseguem aprender devido ao baixo preparo nas séries anteriores, e que é
preocupante o índice de analfabetismo funcional entre os universitários.
Realmente,
professores do ensino superior tem que fazer muitas revisões quando dão aulas
para alunos recém-chegados do ensino médio. No fundamental a progressão era
continuada, se não sou reprovado não preciso estudar, certo? Levam o mau hábito
para o ensino médio, e ao ingressar no ensino de nível superior, não estão
preparados, vem com baixo nível intelectual, semiletrados. Não quero com
isso agredir, apenas apontar a situação do ensino nacional.
Embora
o articulista comente que o quadro é apropriado também para diplomas de
universidades de elite, falo do que conheço, a realidade dos alunos das
classes populares.
Nas
famílias o nível intelectual não é alto, muitos dos nossos jovens
universitários tem pais semianalfabetos, altamente influenciados pela mídia, de
qualidade duvidosa, com baixo ou nenhum acesso ou interesse por atividades
culturais, características transmitidas aos filhos moldando suas ambições e
capacidade de mobilidade social.
O que
temos aí? O conceito de capital cultural de Bourdieu: decorrente da
condição de vida de cada classe da sociedade são moldadas suas características,
reforçando a divisão de classes e suas possibilidades de ascensão. O capital
cultural é um recurso que reforça as relações de poder, mantendo as situações
das classes, uma vez que é influenciado também, pelas condições econômicas.
Já ouviu
alguma pessoa alegar que o ensino em toda a história brasileira foi reservado
para a classe abastada da sociedade, e que os pobres deem-se por felizes por
estarem na universidade hoje, graças aos financiamentos públicos pago com seus
impostos? Eu sim!
Saviani
entende a História brasileira da educação se dividindo entre História
Luso-brasileira até 1822 e História Nacional à partir daí. Temos assim que,
nestes cinco séculos a expansão das oportunidades de educação foram marcada
pelas desigualdades de condições, atendendo as camadas privilegiadas da
população em detrimento das camadas pobres da população, ensino restrito a
pequenos grupos.
Nas
últimas décadas as camadas desprivilegiadas estão tendo acesso ao ensino
superior, porém o ensino fundamental e médio de baixa qualidade tem forte
impacto no desempenho e capacitação para ensinos superiores, levará tempo para
que a situação seja melhorada, é necessário melhorar o ensino na base.
Estando a
base fraca, se requer do professor de ensino superior além dos
conteúdos das disciplinas próprias a esse nível, complementar as do ensino
anterior, além de ser necessário às vezes transmitir noções de cidadania,
respeito, educação em geral, falhas na relação familiar e social anteriores à
sua entrada na universidade.
Considere
esses número: em 1970, ano em que a Seleção Brasileira ganhou o tricampeonato
mundial de futebol, a população brasileira era de “90 milhões em ação”, em 2000
éramos quase 170 milhões, e a Copa do Mundo de futebol será realizada em 2014
num pais que ultrapassou a marca de 200 milhões.
Considere
também que temos 7 milhões de matrículas no ensino superior ,
representando 3,5% da população. Na década de 70 representava 2% . Que
mudanças percebemos? A população aumentou 122% e o acesso ao ensino
superior? 1,5%. Pífio!
Porque
1970? Porque neste ano, foi estimulado o ensino superior com objetivos de
formação de técnicos para impulsionar o desenvolvimento econômico advindo com o
“milagre econômico”.
E também
por ter sido o ano em que o Brasil disputou a Copa do Mundo no México ganhando
da Itália com um placar de 4 a 1.
Esse
título foi amplamente utilizado como propaganda política, pelos militares que
governavam o país. Estávamos no auge da ditadura militar, e a equipe campeã
mostrou a superioridade brasileira em relação ao resto do mundo. No futebol.
Agora
temos um país democrático, e capaz de sediar o evento, mas estamos longe de ter
um time campeão e capaz de obter alto placar nas cadeiras escolares, em todos
os níveis.
Se
quiser conhecer os conceitos de capital cultural e herança cultural de Bourdieu
pode ler no link Bourdieu - Tese
Sobre ensino superior pode ler o meu post anterior que reflete sobre o
tema no link
Geração à Rasca